sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A Permissa

Donde era a Clarice Lispector?
Ela veio em criança pro Brasil, não? Ou ela veio quando era criança?
Putz, agora já nem sei qual termo que se usa. Porque, quando era criança, todo mundo entende, já, em criança, parece muito literato, sei lá, falso, que aquele que nem pensa nisso, aquele que fala quando era criança, espontaneamente, num entendimento que, se pá, nem saiba (se uso sabia parece que ele se deu conta da função), que, se pá, nem saiba que tenha esse entendimento, que isso, isso pra ele é in-te-lec-tu-al. Sabe, jeito de intelectual falar (ou, jeito intelectual de falar)?

Sabe que não sei mais de (de mais) nada, porque, afinal, se se está escrevendo, usa-se: em criança. Dúvida ridícula. Aqui é literatura, mano! Aqui a parada é diferente, quanto mais requinte e enfeite, maior prestígio, maior teu status. Prestígio artístico, ta ligado?, cultura, mano. E nem me venha falar no Bandeira, acho que foi o Bandeira, Manuel Bandeira, do poema do cigarro, ta ligado?, um que chega um maluco e pede um pito, todo cheio de fru-fru, acho que era “dê-me um cigarro...”, e um outro responde pra parar com aquilo, que o brasileiro mesmo diz: me dá um cigarro aí. Também não me lembro se foi mesmo assim que se deu a parada, mas tu entendeu. Isso de sair das regras é coisa de anti-social. Como ele pôde fazer isso?

Pensando bem, o Bandeira era um poeta, ele pode. Que pretensão a minha, me atrever a escrever assim, fora das normas. Esse texto está condenado ao esquecimento, dessa forma: não é poema e nem está escrito dentro das normas. Onde é que já se viu uma coisa dessas?

Se tu só verbalizar a resposta, aquela resposta pronta pras coisas, fica fácil. Tipo “isso sempre foi assim, desde que o mundo é o mundo, o poeta pode, os outros não!” ou tipo “essa é a lei e pronto!”. Agora, se tu titubear pra responder, já era, mano.

Bah, brother, essa pergunta envolve muita coisa. Tem toda uma noção de justiça e visão da justiça. Me lembra(-me) um conto do Kafka, em O Processo, que até o Paulo Coelho parece que uma vez publicou dizendo que era dele, que é, se não me engano, A Lei, ou A Justiça. É mais ou menos assim: neguinho vai atrás da justiça, chega lá, tem um soldado na porta, ele bate um papo co’home e senta por ali. Naquela função, o Kafka deixa entender que tem uma porta pra cada um, que cada um tem a sua idéia de justiça. E que cada porta, e cada porteiro, são únicos, dependem da idéia do visitante. O tamanho da porta, a força do porteiro, a possibilidade de transpô-la (ou transpor a porta?), além de, pra mim, a mais importante, a permissão para transpô-la: tudo depende da visão e da relação que cada um tem com a justiça, sua idéia de justiça, e, por conseqüente, de estado.

Tem um poeta pernambucano que, num disco, porque também canta-dança-batemacumbaê, disse: sou obrigado a dar um dois, tribuna mestre não prende por isso. Esse cara é o Otto, e sei que ele gosta muito dos escritos do Kafka, que a essas alturas, pra mim, já é da mesma aldeia da Clarice Lispector.

“Faça o que tu queres, pois é tudo da lei.” Raul Seixas, amigo do Paulo Coelho.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

autor inconsciente (ou o verbo, Om)

a Irrealidade da causa não nega
a Realidade de seus efeitos


primeiro a imaginação


a profecia se autocumpre, só se fala
o que se quer (que se fale)
e o que se quer
falar (que aconteça)




"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus.
Todas as coisas foram feitas por intermédio do Verbo (Om)"
João, apóstolo joão


"O pensamento é força criadora"
Mano Brown


Om, dos Vedas (hindus), veio a ser a palavra sagrada Hum dos tibetanos, Amin dos muçulmanos e Amén dos ocidentais. Seu significado é seguro, fiel.