segunda-feira, 26 de outubro de 2009

novo endereço

não mais postarei aqui, e sim no wordpress

aqui o endereço novo: www.guriartero.wordpress.com

terça-feira, 1 de setembro de 2009

depoimento de um maníaco-depressivo (ou O Bem Sucedido)

" até que enfim recebi meu merecido salário.
troquei a televisão, o computador, a geladeira, o fogão, o microondas, as máquinas todas de lavar, de secar; as câmeras fotográficas, filmadoras, de segurança. troquei a cerca elétrica, o carro, o cortador de unhas, de gramas, de carnes para churrasco.
e não vejo a hora de trocá-los novamente pelos demorados produtos da próxima geração!
Por que tanta demora para chegarem aqui os produtos mais avançados?!?
Pensando bem, vou encomendar pela internet, a qual dobrei de velocidade, num sítio norte-americano, tudo que mereço. Vou pegar um empréstimo no banco para isso, vi esses dias uma ótima publicidade que me convenceu, é barbada..., sem dizer no carro..., meu vizinho está de carro novo, e o meu já está ultrapassado...

- Sinto um vazio."

marcha rancho

"Se hoje eu posso consumir então eu sou cidadão, amanhã senão eu sou marginal.”
Max de Castro, aguçado observador do cotidiano social brasileiro, além de herdeiro da negritude e cultura mais sensível fluminense, assim sentenciou em Orquestra Klaxon.
Isso me lembra a democracia no seu início, a grega. Aprendi nas aulas de história que quem era cidadão em Atenas eram os atenienses puros, legítimos descendentes dos patrícios seus pais latifundiários (acho q patrício já é de Roma, mas não vem ao caso), e eles somavam, no máximo, 10% da população, estando de lado os escravos e imigrantes.
Em século vinte e um, no Brasil, se dá algo parecido. Segurança só mediante pagamento à máfia, via empresas privadas de ronda e monitoramento. Hospitais e postos de saúde sem condições de acompanhamento adequado para uma vida sadia. Educação decente e preparativa, somente, em escolas particulares. Aí até se pode dizer que as universidades federais são as melhores, e realmente são, mas, quem são os alunos nos cursos mais concorridos?, senão os de maior poder aquisitivo. Poderia discorrer sobre outras áreas de serviço estatal insatisfatórias, como as condições de transporte (não perderei a linha do tempo), mas acho que já basta.
Muito me admira o fato de a elite cidadã e possuidora de condições ser formada, diferente da Atenas antiga, de indivíduos provenientes de múltiplas veias sociais. Burgueses emergentes não faltam. Esses me comovem, pois são descendentes daqueles mesmos sem direito ou condições alguma de dignidade e, ainda assim, se mostram os mais arredios e protecionistas do status quo.
Porém Max não pára por aí..., a marcha dessa história não vai pro rancho, pois, como dizia Jorge Ben, eu quero ver quando zumbi chegar, o que vai acontecer...

Vêde o pé de Ypê

Muita cor, o Ypê florido
Dor? talvez o sexo do Ypê em
flor.
Que apelo!
Não se passa isso na sessão da tarde.

Muita cor, o Ypê florido
Prurido? talvez no alérgico nariz
escorrendo.
Que poder!
Não se passa ao lado do Ypê sem vê-lo.

(Pode ser que seja bom ser um Ypê.
Ypê amarelo. Encher o chão de flor, de sol,
de gozo, de amor, de morte.)

nortistas

introdução:

(O silêncio fala doce
e leve,
Leva ao fundo:
profundo infinito)


Manhã fluvial
de Marajó a Belém
Quem está só
de mal vai a bem


O riso no rio do caboclo
lembra a maré do do meio
Se abre e se fecha, rapidamente
Mostrando dentes,
pedras e
peixes

rio negro

RIOS
DE PETRÓLEO,
PICHE:
PEIXES
MUITOS, UTILITÁ-
RIOS

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A Permissa

Donde era a Clarice Lispector?
Ela veio em criança pro Brasil, não? Ou ela veio quando era criança?
Putz, agora já nem sei qual termo que se usa. Porque, quando era criança, todo mundo entende, já, em criança, parece muito literato, sei lá, falso, que aquele que nem pensa nisso, aquele que fala quando era criança, espontaneamente, num entendimento que, se pá, nem saiba (se uso sabia parece que ele se deu conta da função), que, se pá, nem saiba que tenha esse entendimento, que isso, isso pra ele é in-te-lec-tu-al. Sabe, jeito de intelectual falar (ou, jeito intelectual de falar)?

Sabe que não sei mais de (de mais) nada, porque, afinal, se se está escrevendo, usa-se: em criança. Dúvida ridícula. Aqui é literatura, mano! Aqui a parada é diferente, quanto mais requinte e enfeite, maior prestígio, maior teu status. Prestígio artístico, ta ligado?, cultura, mano. E nem me venha falar no Bandeira, acho que foi o Bandeira, Manuel Bandeira, do poema do cigarro, ta ligado?, um que chega um maluco e pede um pito, todo cheio de fru-fru, acho que era “dê-me um cigarro...”, e um outro responde pra parar com aquilo, que o brasileiro mesmo diz: me dá um cigarro aí. Também não me lembro se foi mesmo assim que se deu a parada, mas tu entendeu. Isso de sair das regras é coisa de anti-social. Como ele pôde fazer isso?

Pensando bem, o Bandeira era um poeta, ele pode. Que pretensão a minha, me atrever a escrever assim, fora das normas. Esse texto está condenado ao esquecimento, dessa forma: não é poema e nem está escrito dentro das normas. Onde é que já se viu uma coisa dessas?

Se tu só verbalizar a resposta, aquela resposta pronta pras coisas, fica fácil. Tipo “isso sempre foi assim, desde que o mundo é o mundo, o poeta pode, os outros não!” ou tipo “essa é a lei e pronto!”. Agora, se tu titubear pra responder, já era, mano.

Bah, brother, essa pergunta envolve muita coisa. Tem toda uma noção de justiça e visão da justiça. Me lembra(-me) um conto do Kafka, em O Processo, que até o Paulo Coelho parece que uma vez publicou dizendo que era dele, que é, se não me engano, A Lei, ou A Justiça. É mais ou menos assim: neguinho vai atrás da justiça, chega lá, tem um soldado na porta, ele bate um papo co’home e senta por ali. Naquela função, o Kafka deixa entender que tem uma porta pra cada um, que cada um tem a sua idéia de justiça. E que cada porta, e cada porteiro, são únicos, dependem da idéia do visitante. O tamanho da porta, a força do porteiro, a possibilidade de transpô-la (ou transpor a porta?), além de, pra mim, a mais importante, a permissão para transpô-la: tudo depende da visão e da relação que cada um tem com a justiça, sua idéia de justiça, e, por conseqüente, de estado.

Tem um poeta pernambucano que, num disco, porque também canta-dança-batemacumbaê, disse: sou obrigado a dar um dois, tribuna mestre não prende por isso. Esse cara é o Otto, e sei que ele gosta muito dos escritos do Kafka, que a essas alturas, pra mim, já é da mesma aldeia da Clarice Lispector.

“Faça o que tu queres, pois é tudo da lei.” Raul Seixas, amigo do Paulo Coelho.